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É preciso empatia, afirma psicóloga sobre vítimas das chuvas no RS
Canção Nova
Publicado em 31/05/2024

É preciso empatia, afirma psicóloga sobre vítimas das chuvas no RS

Oferecer acolhimento e demonstrar empatia é a maneira mais apropriada para ajudar as vítimas de cataclismas ambientais, explica psicóloga

Thiago Coutinho
Da redação

Avô abraça netas em armazém de Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul / Foto: Amanda Perobelli – Reuters

Rio Grande do Sul é formado por 497 cidades. Dessas, 441 foram afetadas pelas fortes chuvas que acometeram o estado — quase 90% dos municípios gaúchos foram diretamente atingidos pelas águas. Os número desta tragédia são sempre excessivos: 581 mil pessoas desalojadas, 169 mortes registradas e 806 pessoas feridas. Como lidar com tantas perdas, materiais e físicas? Como recomeçar a vida diante de tanta destruição?

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“Essas pessoas estão passando por uma situação dificílima, de estresse psicológico, perdas irreparáveis. Portanto, é necessário, ou melhor, é fundamental respeitar, ter compaixão e entendimento”, explica Anne Francis Crunfli, psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental. “Jamais julgar e na tentativa de ajudar, ou amenizar a dor da pessoa, dizer frases vazias, como: isso vai passar, ainda bem que você teve apenas perdas materiais, fique feliz por estar vivo, não chore, vai ficar tudo bem etc. Ofereça acolhimento, esteja ali presente, não busque puxar assunto sobre o ocorrido, isso pode traumatizar ainda mais”, acrescenta.

Eu estou aqui

O importante, de acordo com a psicóloga, é mostrar empatia e ajuda da maneira que puder: informar onde fica um posto de coleta, um centro de abrigo ou informação sobre desaparecidos. “Entenda o que a pessoa precisa, ou pergunte. “Outros vão precisar apenas de companhia, para sentirem-se minimamente seguros. Importante que as pessoas saibam que passar por uma tragédia desse nível, trará comportamentos e sentimentos que são considerados normais nessas circunstâncias, ex: ansiedade, medo, raiva, insegurança, isolamento, hipervigilância (qualquer garoa gera um sobressalto, qualquer barulho, mesmo um copo caindo, uma porta batendo, um nome sendo chamado mais algo, pode gerar sustos desproporcionais)”.

Todas essas demonstrações são válidas nesses casos, garante a psicóloga. “O fundamental para essas pessoas é começar a sentirem-se seguras novamente, pois perderam completamente o controle de suas vidas, perderam a liberdade de escolha. Assim, o acolhimento, o conforto, o respeito, o ‘eu estou aqui’, são suportes fundamentais para a pessoa voltar a ter uma sensação de segurança emocional.

Cataclismas ambientais

A medicina contemporânea já tem um nome para quem teme sofrer com os cataclismas ambientais: ansiedade climática. E combater os efeitos causados por este tipo de angústia exige se colocar no outro. Há, porém, um começo, meio e fim para esses males, desde que o acolhimento necessário seja oferecido a cada vítima.

“Lembrando que tudo são etapas, primeiro a pessoa passará pela perda, pode ter sintomas de passividade, ansiedade, humor deprimido, dificuldade cognitiva de raciocinar claramente, mas o que a ciência nos informa é que tais sintomas tendem a amenizar após um mês e aos poucos a pessoa volta ao seu perfil psicológico, emocional e cognitivo típicos”, afirma Anne. “E futuramente, [pode ser necessário] buscar apoio psicoterápico para elaborar o trauma, caso seja estendido por muito tempo tais sintomas, podendo gerar o TEPT (Transtorno de Estress Pós Traumático)”.

Autoavaliação

Há pouco tempo, o mundo foi vítima da pandemia de Covid-19. À época, equipes de resgate, médicos e profissionais que se dedicam exclusivamente a salvar vidas foram ainda mais requisitados — e o fenômeno volta a se repetir agora, com essas enchentes em solo gaúcho. Para esses profissionais, serem vítimas da Síndrome de Burnout, em que apresentam sintomas de exaustão extrema e esgotamento físico resultante da demanda do trabalho que realizam, pode ser mais fácil.

“Para ajudar é necessário estar bem, se está passando por um cansaço aceitável, seja emocional ou físico, permaneça na frente de ajuda”, aconselha Anne. “Mas, saiba se autoavaliar. É preciso ter responsabilidade social e autoresponsabilidade. Às vezes um dia de descanso será o divisor de águas para salvar inúmeras vidas”, pondera.

Ajuda

Diversas ações solidárias foram feitas de diversas partes do País — e do mundo também. A Arquidiocese de Porta Alegre e as igrejas de diversas cidades (como Gravataí, Viamão, Alvorada, entre muitas outras) estão celebrando a solenidade de Corpus Christi com as tradicionais missas e pontos de arrecadação para alimentos, cobertores, água para os afetados pelas enchentes.

O Governo Federal liberou mais de R$ 1,8 bilhão para ações de apoio e reconstrução do RS. A maior parte deste dinheiro será destinado às ações da Defesa Civil e o Auxílio Reconstrução. A autorização deste crédito foi feita por meio da edição da Medida Provisória 1.223/2024, publicada na noite desta quinta-feira, 30.

“Não existe um lado positivo [nestas tragédias]”, afirma a psicóloga Anne Crunfli. “O que existe é um esforço coletivo, de pessoas do bem, que se colocam de prontidão para resolver o que é possível de ser resolvido, abrigos, alimentos, vestimentas, itens de higiene, brinquedos, todos os tipos de doações. Para ajudar as pessoas a manterem minimamente a dignidade e encontrarem no fundo d’alma, lá no âmago, a possibilidade de seguir em frente”, finaliza.

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